quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Entre eu e ela .


Quem pensa que já viveu um relacionamento intenso é porque nunca teve um filho com deficiência. Sou mãe de uma menina de quase 4 anos que tem paralisia cerebral. E como vivemos em uma cultura onde a criação das crianças é centralizada em apenas uma pessoa (a mãe), minha filha tem de mim o melhor que eu posso dar a um ser humano. E, às vezes, o pior também. Ser mãe de uma criança como a Anna .é conviver com a irreversibilidade. É não ter tempo para drama. Volta e meia, imaginar como ela seria naquela idade, se não fosse a deficiência. É trabalhar duro. É desanimar. É não pensar pra não sofrer. É perder a identidade para ser “a mãe da Anna"

Assim, passo os meus dias matutando... revirando a vida dos pés à cabeça. Começo pelas incógnitas existenciais até chegar à sociologia, política, neurociência e volto para as incógnitas existenciais. No meio desse caminho, vou buscando soluções para os problemas diários. Vou abrindo espaço no mundo pra fazer nossas vidas inéditas.

No meio desse caminho, dou um banho ali, penteio um cabelo aqui... Ela levanta o pescoçinho para eu passar o perfume , rs ( ela ama perfume). Quando Anna deita na cama, antes de dormir e depois de dar um trabalhão daqueles, abre aquele sorrisinho como que dizendo “sou feliz, mamãe”. E eu me sinto ridícula por sofrer tanto. E me sinto embotada por desperdiçar a oportunidade de aprender tanto com ela. Como pode alguém, em condições tão limitadas quanto a dela, ser mais feliz do que eu ou você?

está sempre bem-humorada. É a primeira a levantar o dedo querendo participar das brincadeiras e tarefas que ela nem mesmo pode dar conta. Lê livros, sem saber lê. Dança, sem saber dançar. Fala, sem saber falar! Está sempre disponível para beijar, abraçar... Talvez seja por isso que eu jamais a trocaria, mesmo se pudesse, por outra criança .

Por que o amor que existe entre eu e ela veio de outras vidas .

E essa menina me fez entender algo que já li em muitos livros, ouvi de muitos profissionais, já discuti com muita gente e que já me ocupou muitas horas de reflexão...me fez entender o que é INCLUSÃO.

Inclusão é simplesmente aquele olhar, aquela naturalidade, aquela aceitação, aquele carinho, aquela sabedoria.

Um comentário:

  1. Aii amiga que lindas palavras, saiba que no começo sempre me questiona, sempre questionava a Deus: - Por que eu? oque eu fiz? Oque Sam fez de ruim para sofrer tanto?

    Mas as respostas chegaram rápido e uma delas é exatamente isso que colocou nesse lindo texto! Eles são felizes e até mais que a gente!
    Quem não conhece de perto essa realidade, acha realmente um drama, talvez comparando com outras crianças, outras familias que exautam o preconceito e dramatizam cada segundo da deficiencia.

    MAs quem de nós somos perfeitos? Deficiencia todos temos! E sabe o que eu aprendi de melhor com o Sam?

    - Aprendi a me comunicar, mesmo Samuel não sabendo pronunciar frases inteiras ele me ensinou a falar, a amar de verdade, a ser humana, me ensinou mesmo sem andar a caminhar com minhas próprias pernas, a lutar pelo direito e amar o Direito.

    Não passe a vida matutando mais viu? Viva, viva com a Anna tudo o que tem que viver como se hj fosse o ultimo dia e amanhã e depois!
    Vc não precisa mostrar aos outros o quão é feliz, somente seja e irradiará esse sentimento a todos que estão ao seu redor!

    Como eu vc tem uma Maridão, que te apoia, te ajuda, te ama e o mais importante faz o papel de Pai com todo coração!
    O amor é a base de tudo!

    bjinhos

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